Quantcast
Channel: Donald Trump – Aventar
Viewing all articles
Browse latest Browse all 91

Chega: a encenação anti-sistema do partido de André Ventura

$
0
0

Conhecemos André Ventura dos tempos em que foi o candidato apoiado por Pedro Passos Coelho à CM de Loures. Um candidato que, já em 2017, não escondida algum populismo e xenofobia, que hoje encontramos na narrativa do Chega. O discurso de André Ventura foi de tal forma polémico, que o CDS-PP se afastou e retirou o apoio ao candidato do PSD. E é bom recordar que falamos do CDS-PP, que conta nas suas fileiras e órgãos nacionais com elementos da TEM, uma tendência interna muito próxima do pensamento salazarista, liderada por Abel Matos Santos, candidato à liderança do partido.

Após a derrota eleitoral em Loures, não foi preciso muito tempo para que André Ventura se desvinculasse do PSD para criar o seu próprio partido. Em Março deste ano, Ventura volta a ser notícia, sem ser por razões relacionadas com o debate futebolístico na CMTV, quando entrega as 8 mil assinaturas para a criação do Chega no Tribunal Constitucional, invalidada por conter assinaturas de menores e de forças de segurança. O homem que exige penas pesadas para crimes relacionados com menores e mais respeito pelas forças de segurança a usar menores e forças de segurança num embuste.

Durante a campanha para as Europeias deste ano, André Ventura, que era candidato, faltou a um dos poucos, senão o único debate que reuniu os partidos ditos pequenos. O motivo fui tudo menos surpreendente. André Ventura optou comparecer nos estúdios da CMTV, para um programa de debate futebolístico. Para quem se apresenta como alguém que vem para restabelecer o respeito e a dignidade neste país, faltar a um debate onde se contribuiria para o esclarecimento público, num âmbito de um acto eleitoral onde surgia como cabeça-de-lista de uma coligação de quatro partidos, para discutir a importância do mundo da bola, diz-nos muito sobre as prioridades do político Ventura.

E depois há o Benfica. Não me levem a mal os meus amigos benfiquistas, que o que eu vou dizer a seguir valeria para qualquer clube deste país, mas para um homem que lidera um partido que vocifera contra os ladrões e os corruptos, alguns dos quais apenas suspeitos, o silêncio de André Ventura sobre todos os casos que envolvem o seu clube do coração são a demonstração mais clara de que a narrativa anti-sistema não passa de uma farsa. É, provavelmente, a única amizade de António Costa que passa ao lado da abastada máquina de propaganda do Chega.

André Ventura lidera um partido que se apresentou ao Tribunal Constitucional com uma lista inconstitucional, faltou a um debate eleitoral para participar num pedagógico combate argumentativo sobre futebol, e dá a cara em cartazes pela insurreição contra os bandidos, que já o podem ser antes mesmo de serem julgados, dependendo do partido, clube de futebol, religião, etnia ou género. Não há nada de anti-sistema nisto. Excepto no caso de nos estarmos a referir ao conceito de Jair Bolsonaro ou Donald Trump. Imagino que Ventura se reveja na célebre frase do seu mentor, Pedro Passos Coelho, que por altura da eleição de Trump afirmou que nunca tinha embarcado “na ideia que Trump é tão mau que tinha de sair derrotado”. E a viagem está a correr muito bem, não está? Tão bem que até já temos um.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 91