Já lá vão algumas semanas e muito pouco se falou sobre o assunto. Lamentavelmente, porque vivemos num país onde a imprensa é totalmente controlada pela (extrema?) esquerda, estes actos de quase censura são uma constante. Só assim se compreende que um livro dedicado a glorificar a ascensão da extrema-direita possa ser apresentado por uma antiga ministra, sem que tal cause grande alarido ou dê origem a um título bombástico. Onde está o Correio da Manhã quando precisamos dele?
Num país onde a extrema-direita inunda diariamente as redes sociais com notícias falsas sobre tudo o que mexe à esquerda do espectro, o grande Satã socialista, é importante dizer ao país que Maria Luís Albuquerque se disponibilizou para apresentar um livro dedicado à nova extrema-direita, em particular a Donald Trump, Jair Bolsonaro e à “nova direita europeia”, ou “direita iliberal”, que é, actualmente, o termo oficial da novilíngua para “extrema-direita”. “Fachos”, para simplificar. Um livro onde não faltam elogios a Olavo de Carvalho, teórico da conspiração e ideólogo do regime de extrema-palermice que impera em Brasília, e Steve Bannon, guia espiritual e líder supremo do neofascismo.
O que faz uma ex-ministra de um partido democrático apresentar um livro que elogia inimigos da democracia, determinados em abatê-la?
Esclarece-nos.
Esclarece-nos sobre uma certa direita que tomou conta do PSD, e que tenta novamente tomá-lo de assalto, num segundo round de internas num curto espaço de tempo, provocado, uma vez mais, por Luís Montenegro. Apoiado por Maria Luís Albuquerque, pese embora a tentativa de Cavaco, que, do alto do seu sarcófago, tentou lançar a profissional do swap na corrida pela coroa da São Caetano. Sem sucesso.
Esclarece-nos também sobre uma certa fanfarronice do velho passismo, quando aproveita a oportunidade para apontar o dedo à esquerda por não assumir responsabilidade por nada, logo ela que deu ao país um conjunto de magníficos swaps e outro de geniais resoluções bancárias, sem nunca reclamar para si a paternidade desses feitos.
Esclarece-nos também com esse belo contributo para a normalização da extrema-direita, quando acusa também a esquerda de, tendencialmente, limitar a liberdade, enquanto dá a cara por um escrito dedicado a enaltecer o presidente miliciano do Brasil, que propaga a mentira, a violência e o ódio, entre outros fascistas que se têm dedicado a silenciar jornalistas, opositores e até outros titulares de cargos públicos, como aconteceu, por exemplo, com os esforços do governo polaco para controlar o Tribunal Constitucional.
O livro foi apresentado por Maria Luís Albuquerque, mas na plateia estava Pedro Passos Coelho, que nem de propósito foi quem lançou André Ventura, presumo que a grande referência portuguesa dessa nova direita anunciada pelo autor. Passos Coelho, o D. Sebastião de uma certa direita e o tal que “nunca embarcou na ideia de que Trump é tão mau que tinha que sair derrotado” das últimas presidências norte-americanas. Faz sentido e também nos esclarece bastante.
Que mensagem vos passam estes dois notáveis do PSD? Ficaram esclarecidos? Eu fiquei. Se dar à luz o Bolsonaro português poderia ser visto como um acto involuntário, apoiar voluntariamente a defesa intelectual do fanatismo religioso no Brasil e do velho fascismo europeu, que ainda estes dias nos deu o seu primeiro atentado terrorista, deixa antever o que poderá muito bem vir a ser o regresso do passismo, seja pela mão de um destes dois, seja pela mão de Luís Montenegro.