Quase 24 horas depois do fecho das últimas urnas nos EUA, ainda não sabemos quem será o próximo presidente da nação que dita as regras do jogo internacional. E é possível que ainda não fique tudo fechado hoje, para não falar na mais que provável tentativa de impugnação que se seguirá, caso Biden leve a melhor, e que Donald Trump vem ensaiando desde o segundo debate.
Biden leva uma vantagem confortável, que, à hora que escrevo, é de 39 grandes eleitores. Está a 17 do número mágico dos 270 e é já o candidato presidencial mais votado de sempre em presidenciais nos EUA, ultrapassando pela primeira vez a barreira dos 70 milhões de votos. Para ser mais preciso, Joe Biden leva neste momento 71,5 milhões de votos, contra os 68 milhões de Donald Trump. O candidato mais votado de sempre era Obama, com 69,5 milhões. Em 2016, Trump ganhou com quase 63 milhões contra Hilary, que conseguiu quase 66. Só para colocarmos as coisas em perspectiva.
Biden recuperou ainda o Michigan e o Wisconsin, bastiões democratas perdidos por Hilary para Trump em 2016, que não caiam para o lado republicano desde 1988, no caso do Michigan, sendo que a última vez que o Wisconsin votou no GOP foi em 1984, ano em que nasci, numas presidenciais em que Roland Reagan esmagou Walter Mondale.
Neste momento, são seis os Estados que ainda não terminaram a contagem. Nevada, Arizona, Alaska, Georgia, Carolina do Norte e Pensilvânia. 71 votos eleitorais ainda em disputa. Trump lidera em quatro, mas o Nevada e o Arizona, onde Biden leva vantagem, serão suficientes para garantir a sua eleição. Mas as diferenças são mínimas, e ainda podem cair, todos eles, para qualquer um dos candidatos. Não obstante, os números parecem favorecer a vitória dos democratas.
Entretanto, a coligação terraplanista tomou as redes de assalto e as milícias armadas continuam em modo “stand back & stand by”, tal como Trump lhes ordenou. Em caso de derrota, assistiremos primeiro à diarreia conspirativa no Twitter, seguida do habitual ataque à imprensa e, claro, à legitimidade do acto eleitoral, que terá certamente sido fraudulento, mas apenas se a derrota de Trump se confirmar. Seguir-se-á a entrada em cena do Supremo, que os republicanos controlam, pelo que podemos andar dias, ou mesmo semanas nisto. Espero que não. Espero acordar amanhã e descobrir que o gajo fugiu do país e conseguiu exílio político em Brasília ou Moscovo, quiçá Pyongyang, e que o mundo voltou a ser mais ou menos normal, que sempre é melhor que este triste espectáculo a que temos assistido nestes quatro últimos anos. Agora vou dormir, com o coração cheio de wishful thinking.