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O capitalismo em tempos de corona

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Foto: EPA (via Rádio Renascença)

Os Estados Unidos conseguiram a proeza de eleger Donald Trump presidente. Desde então, as proezas sucedem-se. De Trump já vimos quase tudo aquilo que não esperamos de alguém que dirige uma democracia ocidental. O racismo, a normalização do racismo e o elogio dos racistas. A xenofobia, a demonização do emigrante e o muro. A ignorância, a negação da ciência e as notícias falsas. A boçalidade, a falta de escrúpulos e ausência de uma espinha dorsal. A chantagem, a trafulhice empresarial e a corrupção. Nenhum dos seus antecessores ousou ir tão longe.

Mas Trump não cessa de nos surpreender. Esta semana soubemos que o presidente norte-americano ofereceu uma soma astronómica a uma empresa alemã, que se encontra na linha da frente do desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus, para transferir a pesquisa para solo americano, onde desenvolveria uma vacina exclusiva para os EUA. Desta forma, Trump adicionou uma nova proeza ao seu longo currículo de excentricidades: a proeza do absoluto egoísmo perante uma pandemia mundial.

Trump representa o pior que o capitalismo tem. A sua face predatória e cruel, preparada para recorrer a todos os meios para justificar os fins mais abjectos. A falta de escrúpulos, de solidariedade, de compaixão ou de sentido de comunidade. O individualismo fundamentalista, que está acima da sociedade como um todo. A lei do mais forte, onde o mais forte é aquele que tem mais dinheiro. A lei dos piratas da especulação, que já esfregam as mãos a pensar nos milhões que ganharão, nos próximos meses, à custa do aumento de juros das dívidas dos Estados mais frágeis e mais afectados pela Covid-19. O tal esgoto ultraliberal, que alguns nos tentam vender como uma espécie de liberdade, quando não passa de pura opressão económica.

Tentar desviar uma empresa que luta contra o tempo para conseguir uma vacina, a meio de uma pandemia, com o impulso egoísta de ter o tratamento em regime de exclusividade, é descer o nível mais baixo a que um político pode descer. Uma atitude destas, se as instituições não fossem tão servis, não passaria sem uma condenação global do presidente dos EUA. Um país mais pequeno dificilmente evitaria tal desfecho. As nações democráticas, as organizações internacionais e as instituições religiosas não hesitariam. Contudo, continuamos demasiadamente brandos com os abusos desta América liberal-fascista, pese embora a posição imediatamente assumida pelo governo alemão. Vivemos para ver o dia em que Angela Merkel se transformou na líder do mundo livre. Tempos estranhos, estes que vivemos.


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